Jamais pensei que passaria por algo semelhante, mas lá estava eu, ouvindo com atenção cada dúvida relacionada à autoaceitação sexual do meu até então namorado. Descobri naquela noite que meu parceiro tinha uma orientação sexual diferente da minha.
A cada frase proferida eu percebia o quão relutante ele estava em assumir quem era, ele escolhia com cuidado cada palavra, possivelmente por temer meu julgamento. A cada afirmação havia um retorno e uma justificativa, concluí: ele estava negando a si mesmo.
Eu só conseguia pensar no quão corajosas são as pessoas que podem se olhar no espelho sem cambalear, creio eu, inclusive, que essas pessoas passaram por um longo processo até alcançarem a plena autoaceitação e a coragem para o enfrentamento.
Enxergar e reconhecer quem de fato somos nos tira do eixo e da nossa zona de conforto, para meu ex-parceiro o desafio era grande, aceitar-se implicaria nadar contra um mar de preconceitos e oposições.
Mundo de aparências dificulta a autoaceitação…
Sabemos que em um mundo de aparências, aquele que decide ser quem é independente do que pensam os outros precisará enfrentar inúmeros desafios impostos por uma sociedade mascarada. A questão é: você prefere viver para agradar um mundo de hipocrisias ou para ser feliz? A resposta para a pergunta pode até parecer óbvia, e de fato o é, o difícil, o que nos tira do prumo é partir para a prática.
Compreenda que a felicidade é o percurso, a construção, esse substantivo abstrato não é aquele lugar fixo e quase inalcançável que mais parece a última cena de um filme. Ser feliz pode ser um ato palpável, mas esse ato/ação só emergirá a partir dos caminhos que escolher.
Opte por você, perceba suas singularidades e tenha sempre em mente que o caminhar pode não ser dos mais fáceis, mas valerá a pena.
Quanto ao meu ex-parceiro, basta que saibamos que ele já não é um dos muitos silenciados.
Não consigo ser quem sou: Eu disse não à minha autoaceitação sexual
“Mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”, é assim que gostaria de iniciar nosso segundo momento de troca, com um verso que resume de modo muito significativo o que é a não autoaceitação. Mentiras são como castelos de areia, você pode até se empenhar para mantê-los, mas sempre haverá o momento da ruína, um dia o “castelo cai”.
Com essa nova concepção sobre sua dificuldade de autoaceitação pense em quais aspectos você nota o sentimento de intimidação, em outros termos, o que te faz recuar?
- Minha família não irá me aceitar: o julgamento das pessoas que mais amamos pode ser bem doloroso, por isso você se encolhe para caber em uma projeção falsa sobre quem você é.
- Machismo: o medo de ser visto como “menos homem” ou “menos mulher”, o sentimento de insegurança surge pelo medo de não ser capaz de suprir as expectativas sociais, você não quer frustrar os demais.
- Homofobia: casos e mais casos de intolerância em relação à orientação sexual são noticiados com tanta frequência que se tem a impressão nítida da hostilidade do mundo unida a desesperança: parece que o jeito é ficar escondido(a) mesmo.
- Questões religiosas: para a maioria das religiões o assunto sexualidade ainda é um tabu, por isso são poucas as doutrinas religiosas que propiciam uma abertura às pessoas com orientações sexuais diversas.
Citamos os obstáculos, agora façamos o caminho reverso, tentemos enxergar os percalços por outro prisma.
Autoaceitação: o caminho que vale a pena ser percorrido
Paremos um instante para nos debruçarmos sobre os argumentos que combaterão os obstáculos apresentados acima, voltemos, portanto à lista:
- Minha família não irá me aceitar: em primeiro lugar pense que essa afirmação ainda está no campo da suposição, isso é o que você ACHA que irá acontecer, não necessariamente será dessa maneira.
Aprenda a viver no aqui e agora sem tantas ressalvas, neste momento você está se conhecendo melhor, quando estiver certo de sua escolha se apresente com transparência à sua família, deixe o resto a cargo do tempo.
- Machismo: você não está neste mundo para suprir as expectativas dos outros, você quer provar o que para quem? E até quando?
- Homofobia: “as pessoas que fazem o mal neste mundo não descansam um minuto, por que nós deveríamos?” Silenciar-se não é a solução, ao contrário, para combater o preconceito é preciso tomar sua posição e projetar sua voz.
- Questões religiosas: não fique em um lugar que te diminua com ser humano, se o “espaço” ficou pequeno para você saiba que este não é seu lugar.

Os perigos da não autoaceitação sexual
Pagamos um preço por ser quem somos, mas o saldo final sempre será positivo, contudo, também prestaremos conta caso optemos por ocultar nossa essência.
Quando não aceitamos nossa orientação sexual corremos um sério risco de vivermos infelizes e de fazer as pessoas que amamos infelizes também, por isso, quando não ocorre a autoaceitação:
- a vida perde o sabor, afinal você está longe do que de fato te faria feliz;
- você vive confuso(a), sem saber ao certo quem é;
- você fere suas esferas emocionais e psicológicas;
- torna-se difícil reconhecer sentimentos verdadeiros;
- você promove uma espécie de autossabotagem;
- o medo vira um companheiro constante;
- você sempre estará em estado de alerta, constantemente preocupado com o que as pessoas dirão ou perceberão.
A lista é infindável, as consequências só acarretam prejuízo e te afastam das coisas mais significativas da vida, você não está sozinho (a) nesse caminho, há uma rede ampla de empatia para te sustentar.
Um profissional sempre poderá te auxiliar: compartilhar suas inseguranças com um terapeuta será uma atitude assertiva para sua autoaceitação, busque ajuda, não tenha medo do encontro com quem você é de fato.
Garanto que a descoberta de si será enriquecedora.
Todos merecemos alcançar a plenitude, nossa vida é tão curta que deixar a autorrealização e o autoconhecimento para amanhã não pode ser uma opção, pois, quem será capaz de garantir que haverá um amanhã?
Se você está passando por algo assim, compartilhe seus medos, dúvidas e anseios, deixe seu comentário para formarmos uma corrente de apoio mútuo.