Estamos cansadas da importunação sexual e de hominídeos predadores

Alerta de gatilho: a seguir temos uma descrição de importunação sexual. Se existir a possibilidade de você ficar mal com isso, por favor, pule para o próximo tópico, combinado?

Certa vez, estava eu trabalhando quando precisei parar minhas tarefas habituais para atender um cliente. Na época eu era uma colaboradora de um Help Desk Center em um provedor de internet na região sul do Brasil.

Ou seja, eu atendia o telefone e ajudava as pessoas a resolverem seus problemas de internet e, vez ou outra, marcava uma visita técnica para que nossa equipe externa resolvesse os problemas.

Mas naquele dia, me chamaram na recepção para ajudar um cliente, com sobrenome famoso na cidade, a configurar seu programa de e-mail e roteador. Enquanto eu preenchia um formulário no balcão, algo inusitado aconteceu: ele me tocou.

Não foi no braço. Não foi na mão. E nem no ombro. Ele deslizou a mão pelas minhas costas e, com uma intimidade que eu jamais daria a ele, pousou a mão em minha cintura, escapando vez ou outra para baixo de meu quadril.

Eu, no auge dos meus 19 anos, senti minha alma deixar o corpo. Eu tremia e não conseguia falar. Queria pedir ajuda, mas o máximo que eu fazia era olhar de forma desconcertada e ficar monossilábica.

Entre risos amarelos, tratei de dizer que o computador ficaria na loja até o dia seguinte e que nós ligaríamos quando estivesse pronto. Ele me abraçou, deu um beijo no rosto e se afastou. Eu respirei aliviada e uma raiva contida explodiu dentro de mim.

Para minha surpresa, meus colegas, que observavam tudo de camarote, riram da situação e não entenderam meu pedido de ajuda. Voltei para minha sala e por muito tempo ouvi piadas sobre a importunação. Tive ajuda? Não. E ainda por cima me senti culpada por permitir que aquele “ser humano” tivesse feito aquilo comigo.

Candida Thomazelli
Coordenadora de Conteúdo e redatora.

Importunação sexual, assédio físico e moral: nossa luta diária

Nós, mulheres, estamos cansadas de sofrer assédio no trabalho, nos bares, na vida. É uma realidade com a qual convivemos diariamente e que nos causa um grande desconforto e até mesmo medo. Infelizmente, o assédio sexual é um problema muito presente em nossa sociedade e muitas vezes somos vítimas sem ter a quem recorrer.

No ambiente de trabalho, por exemplo, é muito comum que algumas mulheres sejam submetidas a situações constrangedoras por parte de colegas ou superiores. Comentários inadequados, olhares lascivos e toques indesejados são apenas alguns dos exemplos de assédio que podem ocorrer nesse contexto. Muitas vezes, as mulheres não denunciam essas situações por medo de represálias ou de perder o emprego.

Nos bares e na vida social, o assédio também é uma realidade. Infelizmente, muitos homens ainda acreditam que podem se aproximar de uma mulher de forma agressiva ou insistente, sem considerar seus desejos ou limites. Isso pode gerar uma grande sensação de desconforto e insegurança nas mulheres, que muitas vezes se sentem vulneráveis em meio a situações assim.

É importante que a sociedade como um todo compreenda a gravidade do assédio sexual e se mobilize para combatê-lo. As mulheres não devem ter que lidar sozinhas com esse tipo de situação. É fundamental que existam políticas e medidas de proteção que possam amparar as vítimas e punir os agressores.

Além disso, é preciso promover uma mudança cultural em relação à forma como a sociedade enxerga a mulher. Não somos objetos ou propriedade de ninguém. Temos o direito de nos sentir seguras e respeitadas em todos os lugares em que estamos.

Não nos calarão!

Nós, mulheres, não podemos mais tolerar o assédio sexual. É hora de levantarmos a nossa voz e exigirmos respeito e dignidade em todas as áreas de nossas vidas.

Ontem, o Brasil foi surpreendido com a notícia de que dois participantes do Big Brother Brasil 23, conhecidos como Cara de Sapato e Guimê, haviam sido expulsos do programa por acusações de importunação sexual a uma participante mexicana, Dania Mendez.

A notícia chocou o país e gerou uma grande discussão sobre o tema do assédio sexual. A atitude da produção do programa foi bastante elogiada (até a página dois), pois demonstrou que não há tolerância para esse tipo de comportamento.

Por qual motivo é “até a página dois”? A demora e a forma com que houve a comunicação dos atos inapropriados gerou uma série de desconfortos, como gatilhos e a sensação de culpa por parte da vítima.

A ideia foi boa. A execução, nem tanto. Pois ainda existe uma série de dúvidas de como abordar e acolher uma mulher que sofre importunação e assédio sexual. O apresentador fez o possível dentro de suas limitações (e orientações globais, né?), mas o acolhimento ficou por conta das sisters também fragilizadas.

Não queremos mais conviver com o medo da importunação sexual

Infelizmente, esse caso não é um fato isolado. O assédio sexual é um problema que afeta milhares de mulheres todos os dias, em todas as áreas da sociedade e de todas as idades. Seja no trabalho, nas ruas, nos bares, nas festas ou em qualquer outro lugar, as mulheres estão expostas a situações de desconforto e medo.

É preciso que a sociedade como um todo se mobilize para combater o assédio sexual. É fundamental que as mulheres sejam ouvidas e que as denúncias sejam levadas a sério. Além disso, é importante que as empresas e instituições implementem políticas de prevenção e combate ao assédio, e que haja uma mudança cultural em relação à forma como a sociedade enxerga a mulher.

A expulsão dos participantes do BBB 23 é um passo importante nessa luta contra o assédio e a importunação sexual. É preciso que essa atitude seja seguida por outras empresas e instituições, para que possamos criar um ambiente mais seguro e respeitoso para nós, mulheres.

Por fim, é importante destacar que o assédio sexual não é uma brincadeira e não deve ser tolerado em nenhuma circunstância. Precisamos nos unir e lutar contra esse problema, para que todas as mulheres possam viver com dignidade e segurança.

Sua ajuda pode estar aqui

Nós sabemos como a importunação e o assédio sexual marcam nossas vidas. Mas você não precisa trazer isso tatuado, afinal, você é mais forte que isso.

Por isso, se precisar desabafar, reorganizar seus pensamentos ou simplesmente queira testar alguma terapia holística, experimente conversar com um de nossos terapeutas. Certamente eles irão te acolher da melhor forma.


Esse texto foi idealizado e coescrito por Samira Argondizo, que é filha, mãe de uma menina, esposa e uma colega de trabalho incrível que defende as vozes femininas.