Velhofobia ou etarismo: mulheres com data de validade?

Aqui você encontrará:

  • O que é velhofobia
  • Universitária hostilizada por colegas
  • Punição para o preconceito 

Joana D’Arc conquistou um posto no exército francês, Virginia Woolf desafiou mulheres ao redor do mundo a repensarem seus papéis sociais,  Simone de Beauvoir combateu o machismo na academia filosófica, e hoje, 14 de março de 2023 estamos nós a discutir a velhofobia para combater o estigma das “mulheres com prazo de validade”, só posso concluir que de fato, o Brasil não é para amadores. 

Bom, mas caso você tenha sido abduzida nos últimos dias e não sabe do que estou falando, calma que eu vou contextualizar. 

Circulou um vídeo pelas redes sociais onde aparecem três universitárias ridicularizando uma colega de sala por conta de sua idade, frases como: “Ela já tem 40 anos”, “Era pra estar aposentada” e “Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade” são ditas pelas “jovens” com uma naturalidade espantosa.

O vídeo acabou bombando na internet e gerou uma onda de revolta e indignação, e não era para menos, afinal, uma mulher que deveria ser exemplo por dar continuidade aos estudos virou motivo de chacota por conta de sua idade.

Até mesmo os mais importantes veículos de comunicação exploraram o assunto e o tema: etarismo ganhou visibilidade no país inteiro.

Etarismo…essa palavra esquisita também é sinônimo de velhofobia, mas você sabe qual seu significado e que tipos de atitudes se enquadram nessa forma de preconceito?

Se não sabe fica tranquila que nós te ensinaremos, pois aqui, SEMPRE é momento de aprender! 

Minha idade, meu limite? Afinal de contas, o que é velhofobia? 

A velhofobia ou etarismo consiste na discriminação de pessoas ou grupos em decorrência de estereótipos relacionados à idade. 

Se você já ouviu ou presenciou comentários como “você é velha demais pra isso”, “uma mulher da sua idade não deveria se vestir assim” ou “esse lugar não é pra gente velha” então você sofreu ou foi testemunha de velhofobia. 

Precisamos deixar claro que homens também sofrem com esse modelo de preconceito, contudo, hoje, nosso foco é voltado para a condição feminina.

Tenho,às vezes, a ligeira impressão de que para boa parte do mundo, nós, mulheres, temos prazo de validade. É como se a nós não fosse dado o direito de envelhecer e continuarmos ativas

Mas como isso acontece e por quê?

Sem grandes pretensões de resolver uma questão tão complexa, podemos levantar algumas hipóteses. 

Você se lembra que em um passado não tão remoto nossa função social era limitada? Não podíamos votar, não éramos responsáveis pela escolha de nossos cônjuges, frequentar universidades então, nem pensar. 

Pois é, o que faz então o sexo feminino em um contexto tão restrito? Cuida e procria!

Agora pense por um instante, até quando vai a idade fértil da mulher? Passado esse período, para que nós serviríamos? Para bem poucas coisas, eu diria. 

Logo, a mulher de meia idade era considerada inútil e descartável.

Infelizmente nosso mundo carrega alguns vestígios desse estereótipo, o vídeo preconceituoso citado no início do texto se encaixa perfeitamente como exemplo, mas, estamos avançando…eu acho. 

Preconceito com punição?

O mestre em Direito das Relações Sociais da PUC, Leonardo Pantaleão, concedeu uma entrevista ao site Terra e ao ser questionado sobre o tipo de crime que se enquadraria a prática de velhofobia, como no caso das universitárias, respondeu:

“Por se tratar de conduta que ofende a honra subjetiva, em especial sua autoestima, ou seja, a visão que ela tem sobre si mesma, pode-se cogitar o delito de injúria, que corresponde a uma das espécies de crime contra a honra tipificados no Código Penal brasileiro”[…] “Já a universidade não sofre consequências criminais, mas é passível, diz ele, a análise sobre aspectos indenizatórios, como dano moral, por exemplo.”

Em você também brotou uma pontinha de esperança? Aguardemos, mas não silenciadas…

Quem já viu, mulher de verdade?

Tenho mais de 30 anos e vivo cercada de mulheres mais velhas, elas estão entre minhas colegas de trabalho, faculdade, amigas e familiares. Suas histórias? As mais variadas possíveis. 

Mulheres que começaram a dirigir aos 37 anos, que iniciaram uma nova profissão aos 40 e que aos 53 saem de suas casas duas vezes por semana para seus cursos profissionalizantes.

Mulheres que se divorciaram aos 42 e que toda sexta-feira curtem um happy hour. 

Em outras palavras, Mulheres que existem de fato e que não são apenas uma soma de desejos de parecer. Mulheres de verdade.

Elas se recusam a ficar: 

“sentadas no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar…”

Admirando o sexo feminino ainda me questiono que tipo de sociedade julga mulheres que vão além?

Respondo: a sociedade retrógrada que se acovarda diante dos avanços. 

Minhas mãos não serão mais como as suas, mas as suas, um dia serão como as minhas

Parafraseando (com alteração, se é que isso é possível) Cecília Meireles que se entristecia com a idade gostaria de fazer um exercício contrário e olhar para a aparência de nosso caráter questionando:

“[…] em que espelho ficou perdida nossa empatia?”

Trago aqui empatia como um sentimento no qual somos capazes de enxergar com a perspectiva do outro, não basta que mudemos de lugar, é preciso conhecer o outro mundo e por fim respeitá-lo.

Portanto, mulheres, cientes de que a empatia é um dos fatores que nos garante humanidade, continuemos, com 20, 30, 40, 50 ou 60 anos, prossigamos estudando, trabalhando, mudando de caminho, escolhendo novas rotas, como Patrícias, Anas, Marias, Gabrielas…

Como Joana, Virgínia ou Simone, “vivendo em um mundo machista, mas guardando dentro de nós o melhor de nossa feminilidade.”

Para encerrar nossa conversa de maneira esperançosa, gostaria de salientar que um grupo de estudantes da universidade de Patrícia, a vítima do vídeo ofensivo, recebeu a universitária com acolhimento depois do ocorrido. 

O que constato? É possível que ainda haja salvação!

Avante, guerreiras, independente de sua idade (a velhofobia não vai nos parar) ou condição, tenha certeza de que esse é apenas nosso começo!

Quanto às outras, são apenas as outras…