O poeta que me perdoe, mas a força da Mulher é fundamental 

Escrever sobre mulheres é sempre um desafio, sou fascinada pelo feminino e tudo o que cerca esse sexo nada frágil, esse desafio toma proporções inimagináveis quando recebo a tarefa de escrever sobre mulheres que fizeram história, mas que já não estão mais entre nós.

Por isso, inicio este segundo parágrafo confessando que neste momento um frio percorre minha espinha, pois estou consciente de minha responsabilidade, contudo, sou mulher e sei que covardia não combina com a condição feminina, para além de minhas fraquezas, recebo minhas responsabilidades de peito aberto. 

Sei que não estou só quando menciono a capacidade feminina de vencer e combater obstáculos, um coro de vozes se junta a mim, são Anas, Marias, Joanas, Antônias, Lígias, Clarices, e por que não, Elizabetes? 

É nesse instante, portanto, que devo pedir licença a todas essas mulheres que “combatem o bom combate” e que norteiam minha escrita para falar de uma força feminina nobre e específica: Sua Majestade, a Rainha Elizabeth II. 

O poeta, os homens, os deuses e o cosmo que me perdoem, mas não há força nos céus ou na terra capaz de parar uma mulher que sabe o quão grandiosa é, Elizabeth Alexandra Mary Windsor era uma dessas mulheres: aquele tipo que de longe atrai e de perto fascina. 

Uma personagem histórica, uma monarca, A Rainha, mas,  antes de qualquer título, um ser humano que tornou-se mulher – e é sob essa perspectiva que olharemos para Elizabeth II: como mulheres que sobrevivem em um mundo de homens e se reconhecem para um último adeus.

A vida que podia ter sido e a que de fato foi

Elizabeth Alexandra Mary Windsor nasceu no Reino Unido em 1926, filha de Albert Frederick Arthur George e de Elizabeth Bowes-Lyon, Duque e Duquesa de York, posteriormente, Rei George VI e Rainha Elizabeth (A Rainha Mãe), Lilibet, como era conhecida pela família cresceu cercada de conforto e privilégios que apenas os nascidos em berço de ouro possuem.

Embora pertencesse à monarquia, era pouco esperado que um dia, Elizabeth se tornasse rainha, isto porque a jovem era a terceira na linha de sucessão ao trono, porém, os reveses da vida não poupariam nem mesmo a realeza. 

Com a morte de seu avô, assume a coroa seu tio Edward VIII, em menos de um ano,contudo, o Rei Edward abdica do trono, e repentinamente, diante dessa “dança monarca de cadeiras” quem se vê coroado é o pai de Elizabeth, George VI.

Ao contrário de sua filha, o Rei George VI teve uma vida breve, após falecer aos 56 anos deixa como herança para sua querida Lilibet o trono do Reino Unido, Elizabeth tinha apenas 25 anos de idade. 

Casada com Philip (Duque de Edimburgo) e mãe, até então, de dois filhos: Charles e Anne, Elizabeth, agora reconhecida oficialmente como Rainha do Reino Unido, se muda com a família para o Palácio de Buckingham. 

Assim, a mulher discreta, acostumada a tratar com maestria seus queridos cavalos, passa a ser o centro das atenções de todo um Reino, agora, aqueles que precisam de seus cuidados ultrapassam os limites dos estábulos. 

O destino de uma mulher é ser mulher 

Se na data de hoje pesquisarmos o nome de Elizabeth II uma das primeiras informações que aparecem é a duração de seu reinado: exatos 70 anos.

Foram 96 anos de vida e 70 anos de trabalho. Longevidade, constância, equilíbrio, tudo em prol da coroa – qual seria o segredo por trás da perpetuação de uma dinastia? O que teria Elizabeth II, diferente de outros reis e rainhas de outros reinos, que, embora abalasse, jamais fizesse ruir a dinastia de Windsor?

Elizabeth vivenciou guerras, pandemias, enfrentou a arrogância de homens pretensamente poderosos, foi Chefe de Estado, soube contornar escândalos familiares, crises econômicas e problemas políticos. Precisou provar que era inteligente e capaz de honrar o lugar que ocupara, foi taxada de fria, insensível, severa, disciplinada.

Olhou de igual para igual nos olhos dos homens mais temidos e respeitados. Destacou-se, atraiu olhares e ganhou a simpatia do povo. Esta era Rainha Elizabeth, uma mulher cuja postura e dignidade serviram como base para o fortalecimento de seu legado. 

Elizabeth II “viveu em um mundo de homens guardando em si o melhor de sua feminilidade”, talvez, e apenas talvez, tenha sido justamente essa a origem de sua força. 

A monarca da casa de Windsor desempenhou de maneira impecável seu papel ao longo de seus 70 anos de serviço, estava lá, houvesse o que houvesse, quantas mulheres conhecemos que sempre estarão lá não importa o que aconteça?

Elizabeth, eu, você, nossas mães, tias, avós e amigas enfrentamos uma luta diária por nossos reinos e por nós mesmas, o fim não existe para nós, nos mantemos vivas nos exemplos que deixamos e nas mulheres que inspiramos, por isso,  um brinde à nossa feminilidade, raiz de nossa força. 

Rainha Elizabeth: A gente não morre, fica encantado 

Aos 96 anos, no dia 08 de setembro de 2022, a Rainha do Reino Unido fechou seus intensos olhos azuis para sempre, o castelo de Balmoral, na Escócia, foi o último lugar onde esteve a monarca.

E são nesses momentos de luto, individual ou coletivo, que me lembro do trecho de um famoso sermão do século XIV: 

a morte de todo homem me diminui […];

Aprecio este trecho porque sou capaz de sentir a unidade que somos, o que ocorre ao outro também me afeta e será assim até o fim dos tempos.

Por isso, a solidão do luto se desfaz e percebo que já não estou mais só, esse acolhimento me lança quase instantaneamente aos braços das sutis palavras de Guimarães Rosa sobre a morte:

A gente não morre, fica encantado…

a gente morre é pra provar que viveu

[…]

Gosto de acreditar que o tempo costuma parar provisoriamente para grandes personagens, portanto, não temos motivo para temer o futuro, a nós, mulheres, cabe darmos sequência a personagens femininas dotadas de tamanha força como foi Elizabeth II.