Síndrome Burnout nos relacionamentos: Como assim?

A síndrome de burnout é uma doença relacionada a profissionais em ambientes de trabalho.

O termo “ BURNOUT” , utilizado desde a década de 50, ganhou notoriedade por volta de 1970, através do psicanalista alemão Herbert Freudenberger, na época trabalhando com toxicodependentes .

Segundo relatos, ele observou que alguns voluntários envolvidos no trabalho apresentaram perda progressiva de energia. Além disso, sintomas de ansiedade e depressão. Tornando-se menos sensíveis, incompreensivos, desmotivados e até agressivos em relação aos doentes.

Na época, aliás, ele próprio foi vítima do esgotamento físico e mental, devido ao ritmo de trabalho, chegando a ficar de cama.

Os efeitos da doença podem interferir tanto no relacionamento intrapessoal – que temos com nós mesmos, o diálogo interno, no qual estão inseridos os aspectos físico, mental e emocional – quanto nos relacionamentos interpessoais que englobam as relações profissionais, familiares e até afetivos.

Um profissional com burnout pode ter conflitos com colegas de trabalho, diminuição da qualidade de serviço e absenteísmo entre outros problemas.

Então, nos relacionamentos familiares e afetivos, muitas vezes, os problemas profissionais são descontados em membros da família. Isso acontece através da agressividade, impaciência e falta de qualidade de presença.

Conheça os principais sintomas do burnout

O assunto, muito discutido nas redes sociais, nos RHs de empresas e no sistema de Saúde, ganhou relevância após o início da pandemia. Foi quando milhares de pessoas passaram a apresentar alguns dos sintomas abaixo:

Exaustão Emocional

Seria quando a pessoa percebe que não consegue entregar o tanto de energia que determinada atividade requer. Seja no trabalho, em casa ou em suas atividades pessoais.

As causas apontam para uma sobrecarga em atividades ou conflitos pessoais nas relações com outras pessoas.

Despersonalização

Típica da síndrome de burnout e ajuda a distingui-la do estresse. Isso porque a pessoa cria mecanismos de defesa desencadeando atitudes insensíveis em relação aos outros. Como se erguesse uma barreira para não permitir a influência dos problemas alheios em sua vida. Ela chega a agir com cinismo e rigidez, muitas vezes, ignorando os sentimentos alheios.

Redução das atividades

Acontece quando ocorre a sensação de insatisfação consigo mesmo e com a execução das suas atividades. Os sentimentos que acompanham são dolorosos e só tendem a aumentar. Estão ligados à incompetência e baixa autoestima.

A doença em Home Office

Uma pesquisa publicada no Brazilian Journal of Development, investigou profissionais que durante a pandemia do COVID-19 passaram a trabalhar em casa – o objetivo era eliminar fatores de risco de burnout.

Na observação dos participantes, o estudo mostrou que eles realizavam o trabalho quase de forma mecânica.  Nesse processo, não encontravam desafios, tornando o serviço desinteressante.

Os participantes também demonstravam cansaço mesmo antes de iniciar suas atividades diárias e precisavam de um tempo maior para se recompor após o expediente, pois tinham dificuldade em se desconectar. Consequentemente, dedicar-se ao lazer.

O estudo concluiu também que a prevalência de burnout entre profissionais submetidos a home office é alta. Isso porque com a necessidade de ficar em casa aumenta a busca do sucesso do relacionamento afetivo, despertando mais fatores correlacionados à doença.

O que leva, necessariamente, à busca e combate aos fatores desencadeantes.

Burnout nas Relações Afetivas?

E o que tudo isso tem a ver com relacionamento afetivo? Você já parou para pensar que os mesmos sintomas estiveram presentes em muitas casas nos últimos dois anos? Muitos casais, acostumados a compartilhar momentos somente no período da noite, e/ou nos fins de semana, passaram a conviver 24 horas por dia.

Lidar com os problemas do trabalho dentro de casa, por exemplo: enfrentar as fragilidades emocionais (medos, questões financeiras); administrar o convívio com colegas de trabalho e as redes sociais, preservando a individualidade em meio a pandemia….. e além de tudo isso, ainda cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos e da vida a dois?!?

Realmente é pedir demais! Fazer tudo ao mesmo tempo, em poucos metros quadrados, pode, sim, provocar um burnout nas relações afetivas.

Todos precisamos de um espaço – a solitude – para extravasar nossas emoções. Sem esse espaço de individualidade os conflitos se multiplicam e as divergências parecem aumentar a cada dia subtraindo o espaço do amor e da amizade.

Estudo publicado em 2018 pela Universidade de Santa Cruz do Sul, correlacionou a prevalência dos conflitos entre trabalho e vida familiar – com o objetivo de identificar as causas do estresse, sentimentos de desuso ou frustração profissional e familiar – e demonstrou que o excesso de tempo de trabalho está relacionado ao rompimento de vínculos familiares.

O fato de possuir um cônjuge ou um companheiro não garante disponibilidade afetiva mesmo quando este é representado como um importante suporte, pois nem sempre ele estará disponível ou será suficiente para gerar o apoio psíquico necessário.

Conhecer o problema e ficar atento

Pois é, conhecer as características e fatores que podem desencadear a síndrome do burnout é de extrema importância para prevenir e manter, inclusive as relações afetivas.

Todas as doenças dão sinais. Neste caso, dor de cabeça constante, tonturas, tremores, falta de ar; distúrbios do sono, ansiedade, irritabilidade, dificuldade de concentração; problemas digestivos; oscilação de humor, tendência a vícios e falta de vontade de realizar atividades antes prazerosas, podem ser um alerta que a pessoa não está conseguindo administrar o estresse por motivos alheios à sua vontade.

Dicas para lidar com o Burnout

Identificar é importante. Contudo, prevenir e cuidar, melhor ainda. O que fazer? Como resolver tudo isso? Finalizo a nossa reflexão com algumas dicas:

  • Aprenda a separar o tempo de trabalho e não levar os problemas profissionais para o convívio familiar.
    Procure realizar alguma atividade diferente que dê prazer
  • Fique atento aos momentos de vulnerabilidade seus e do outro, para entender quando é hora de dar e receber apoio. Às vezes é difícil perceber, então procure ajuda, seja para um atendimento individual, casal ou familiar.
  • Muitos profissionais são especialistas em Relacionamentos. Independentemente de ter filhos ou não, crie momentos a dois, como quando havia o jogo da conquista e da intimidade
  • Aprenda a ouvir. Mas aprenda a falar também. Há os momentos certos para cada um e a maneira amorosa de fazer
  • Se estiver estressado ou irritado, procure meios alternativos de extravasar, como uma atividade física, meditação ou outra Terapia Holistica.
  • Entenda que nem sempre é possível resolver os problemas sozinho. Procure ajuda de um profissional qualificado, com conhecimento e ferramentas para auxiliar você a cuidar de tudo isso. Vale coaching de Relacionamento e Sexualidade, Terapia Comportamental, Psicanálise ou alguma outra.

Que tal colocar as dicas em prática? De guerra bastam as que estão acontecendo mundo afora. Cada um de nós merece paz interior, no ambiente de trabalho, em casa.

Aliás, burnout significa esgotamento, queima total.

Renata Arakaki é terapeuta holística com formação em diversas especialidades, voltada para o atendimento focado nos relacionamentos, pessoais e interpessoais, e na sexualidade. Seu foco é auxiliar na resolução de conflitos melhorando a qualidade de vida e bem estar.