Os gatilhos de ansiedade: uma experiência pessoal

Gatilhos de ansiedade

Sempre fui uma pessoa ansiosa, mas a junção de pandemia e isolamento social foi o terreno perfeito para o surgimento cada vez mais constante dos meus gatilhos de ansiedade, e para falar um pouco mais sobre o assunto trago minha experiência pessoal, se você passou por uma situação parecida provavelmente vai se identificar. 

O cenário não era dos mais favoráveis, era março de 2020 e fazia menos de um mês que eu havia terminado um namoro quando soube do decreto de lockdown, a partir daquele momento o país reconhecia estado de calamidade pública em decorrência da pandemia do COVID-19. 

Eu estava vulnerável e tudo o que queria era poder sair com meus amigos para um bom bate-papo, mas naquela situação isso era impossível. 

Tentei manter minhas atividades corriqueiras, como acompanhar os noticiários, eu queria estar bem informada sobre a situação caótica pela qual o mundo passava, porém, comecei a notar o quanto cada notícia me afetava de maneira negativa, meus gatilhos de ansiedade eram “estimulados” o tempo inteiro pelo bombardeio de informações.   

O combo era perfeito: sem contato com o mundo externo, preocupada com o avanço pandêmico e as notícias cada vez mais pessimistas minavam o pouco que me restava de bem-estar emocional. 

Minha primeira reação foi tentar ignorar meus sentimentos como quem ignora uma visita indesejada, a diferença é que quando se trata de emoções ignorá-las não faz com que elas desapareçam, ao contrário, sentimentos negligenciados viram incômoda poeira jogada para debaixo do tapete. 

Com o passar do tempo e com o auxílio da terapia aprendi a identificar meus gatilhos de ansiedade e a ressignificar meus sentimentos, agora minha intenção é compartilhar meu aprendizado para ajudar quem sofre do mesmo mal, por isso, se quiser saber mais sobre o assunto continue essa leitura. 

Do que estamos falando? Entenda o que são gatilhos de ansiedade

Hospedei recentemente em minha casa uma adolescente de 16 anos, comentei qual seria o tema trabalho ao longo do meu texto semanal e ela não pensou duas vezes para me dizer: “brigas me dão gatilho”, na sequência disparou: “sei que isso tem relação com minha infância, meus pais brigavam muito.”

Curiosamente minha hóspede sabia que sua experiência passada estava relacionada com seu gatilho mental, descobri como adolescentes podem ser surpreendentes. 

Partindo do exemplo apresentado acima façamos uma reflexão: um gatilho de uma arma de fogo é uma espécie de artifício, uma alavanca que quando estimulada faz o disparo acontecer, logo, os gatilhos de ansiedade são um “disparo” de emoções diante de uma determinada situação, pessoa, lugar, cheiro, etc.

Quando alguém afirma, portanto, que determinada situação lhe gera gatilho, essa pessoa na verdade está dizendo que algo provoca em sua mente um “disparo” que a remete a alguma experiência passada. 

Os gatilhos emocionais nos fazem reviver situações positivas e negativas. Porém, ao nos referirmos aos gatilhos de ansiedade, estamos falando de um compilado de pensamentos, emoções e sensações que nos lançam novamente às situações delicadas vivenciadas no passado. 

Voltemos a minha hóspede para exemplificarmos a questão. Como na infância ela não possuía um suporte emocional adequado para lidar com os sentimentos provocados pela exposição às brigas dos pais, a situação vivenciada acabou virando um trauma.

Ao se perceber diante de brigas novamente surge o gatilho para lembranças e sensações negativas.  

Como você já deve ter notado, os gatilhos emocionais são muito particulares e estão diretamente relacionados à trajetória de vida de cada um, por isso, nem sempre identificá-los pode ser uma tarefa fácil, tenha consciência de que para detectar um gatilho você precisa ser como minha “hóspede-adolescente” e possuir um profundo conhecimento de si mesma. 

Como identificar gatilhos emocionais?

Em primeiro lugar é imprescindível a auto-observação, olhe para suas emoções com muita atenção, nada do que você sente pode ser classificado como “besteira” ou “frescura”.

Percebeu que seu humor sofreu alteração diante de uma pessoa, lugar ou situação? Alguém disse alguma coisa que despertou angústia/tristeza? Você leu uma notícia que mudou seu estado de espírito? Sentiu um medo irracional ao ser exposta a determinada experiência?

Se você passou por alguma dessas situações quero que saiba que tenho uma tarefa para você, para isso elaborei o que costumo chamar de “passo a passo da identificação”. Você deverá:

  • Olhar para seu sentimento, JAMAIS fuja dele, sentimentos estão ali para sinalizar alguma coisa, tente, portanto, nomeá-los: trata-se de uma sensação de vazio interno? Medo? Preocupação? Desespero?  
  • Perceber seus sintomas: Houve sensações físicas? Sentiu dores? Mal-estar? 
  • Anotar: Tudo o que foi sentido com intensidade deixe registrado em um caderno ou em algum aparelho eletrônico. 
  • Observar: Quais dos sentimentos abordados você tem sentido com mais frequência? Em quais situações? Observe se as situações que envolvem seus gatilhos de ansiedade apresentam algo em comum.  
  • Estar atenta aos detalhes: Quando o assunto é nossa saúde mental tudo é importante, por isso, não deixe nada escapar, se te gerou algum incômodo, por mais trivial que possa parecer a situação volte mentalmente a ela e tente reconhecer o ponto crucial que despertou sua crise emocional. 

Pensar racionalmente sobre as coisas que acontecem em nossa mente é o mesmo que lançar luz à escuridão, o caminho pode ser muitas vezes tortuoso, mas iluminá-lo é a melhor maneira de fortalecer o equilíbrio daquele que caminha.

A ajuda terapêutica para ressignificar o que te faz sofrer

Foi ao longo das sessões de terapia que pude compreender meus gatilhos de ansiedade, o auxílio do meu terapeuta me ajudou a ressignificar minhas crises e preocupações. Fui capaz de identificar não só meus gatilhos negativos, aprendi a reconhecer as coisas que produziam em meu inconsciente disparos positivos. 

Atravessei pandemia, separações, crises e isolamento com medo, não vou negar, mas olhando para meu interior e descobrindo quem realmente sou, as coisas que me fazem bem e as coisas que não me fazem tão bem assim. 

Gatilhos emocionais não são “mimimi”, são aspectos reais da condição humana, se coubesse a mim dar um conselho universal sobre saúde mental eu diria: façam terapia! Para você que chegou até aqui cuide-se com carinho, procure ajuda de uma profissional que te conduza ao autoconhecimento e ao bem-estar emocional. Conheça nossas terapias e viva com plenitude.

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