Na Antiguidade, assim como o tempo e as estações do ano, o corpo humano era entendido como algo sagrado, que era parte da natureza e simbolicamente compreendido como um templo.
Apesar de termos perdido essa visão divina do corpo ao longo da história, ele ainda é o veículo que nos propicia todas as nossas sensações e vivências.
O corpo ao longo da História
Quando os Jogos Olímpicos surgiram na Grécia, os biotipos “atléticos” eram vangloriados pela sociedade, o que pode ser visto em obras de arte da época, que trazem corpos nus perfeitamente delineados e simétricos.
Já em alguns períodos, como na Idade Média, era visto como algo pecaminoso, principalmente o feminino, já que as mulheres eram extremamente sexualizadas e vistas como um “meio” para reprodução.
Nesse momento da História, fazer, ver, sentir e explorar o corpo era algo fortemente reprimido. Durante muito tempo, a ideia predominante foi a de que o corpo deveria ser escondido e tampado, para que fosse “valorizado”.
O cuidado com o corpo e o fortalecimento do autoconceito faz com que a visão do corpo como um templo possa ser cada vez mais compreendida internalizada, apesar das estratégias da mídia e do mercado que vem criando uma noção de beleza baseada em corpos irreais.
Como a noção saudável da autoimagem influencia na nossa autoestima?
A autoimagem é definida como o conhecimento que cada indivíduo tem sobre si mesmo. Portanto, é importante analisar com cuidado a nossa própria visão sobre nossos corpos, para que consigamos discernir o que é realmente nosso e o que é apenas a mera opinião alheia.
Assim, é importante entender também o papel da família no processo da construção da autoimagem, já que são esses cuidadores que dão início ao processo de construção da criança, que aprende a se diferenciar dos outros e a internalizar alguns padrões e rótulos.
Dessa forma, devemos nos atentar para a vulnerabilidade infantil, que muitas vezes faz com que as crianças entendam tudo o que falam sobre elas uma verdade absoluta – principalmente quando quando a pessoa que fala é vista como amada e confiável.
Mas o que tudo isso significa quando nos tornamos adultos?
Os comportamentos dos pais se tornam uma espécie de reforço para as qualidades e características marcantes dos filhos, quando definem que “fulano é bagunceiro”, por exemplo.
Apesar de nos tornarmos conscientes, com o passar do tempo, de que nem tudo aquilo que falam sobre nós é necessariamente uma verdade, essas primeiras ideias elaboradas ainda têm força sobre nossos pensamentos.
Para superar e ressignificar essas ideias, é preciso entrar em contato com suas raízes – quais foram as experiências vividas (principalmente durante a infância, quando você estava construindo a sua noção de mundo) que te levaram a atribuir características negativas e opressoras a si mesma?
Apesar de as raízes dos nossos traumas estarem, na maioria das vezes, relacionados a eventos do início da vida, é preciso reforçar que isso não transfere a culpa de todas as suas questões emocionais para as pessoas que foram responsáveis pela sua educação.
Nesse sentido, um dos primeiros passos do processo de evolução pessoal, para desenvolvermos melhor o autoconceito, é encarar a responsabilidade sobre nossa própria saúde mental – e, consequentemente, sobre a forma como enxergamos a nós mesmas.
O que é o autocuidado?
O autocuidado é entendido como a capacidade do indivíduo de realizar ações em prol do próprio bem-estar e fortalecimento da autoestima. O autocuidado se relaciona, principalmente, com a auto-observação, porque é a partir dela que estabelecemos nossos limites e gostos.
Alguns tipos de autocuidado privilegiam o cuidado com o corpo e com a aparência, o que também influencia o processo de construção da autoimagem – já que as crenças que temos sobre nós mesmas são altamente relacionadas à ideia de beleza que é disseminada atualmente.
Sendo assim, tirar um tempo para descansar, cuidar do corpo e da própria aparência, comer coisas do seu gosto e participar de atividades que geram prazer são tipos de autocuidado. Porém, é importante ter em mente que isso deve ser feito por você mesma, e não para se adequar a um padrão ou às expectativas de alguém.
É importante pensarmos que o autocuidado vai além do cuidado com somente o externo, ele é a importância que nós demos ao ser humano como um todo. Quando é resumido apenas à aparência, pode tornar-se um mecanismo de busca pela perfeição – o que desencadeia uma série de questões psicológicas.
Como a mídia influencia nossa autopercepção?
A cultura atual, juntamente com os padrões de beleza impostos nos diversos meios digitais, geram uma pressão estética devastadora em muitas mulheres, inviabilizando a percepção saudável do próprio corpo e da própria autoestima.
Redes sociais bombardeadas por mulheres super magras e, supostamente, sempre “plenas” geram diversos transtornos e frustrações nas mulheres, principalmente vinculados à comparação excessiva com aquele corpo irreal.
Todo o conteúdo que recebemos diariamente ajuda a reforçar a ideia deturpada de beleza que se criou hoje, o que precariza a vivência feminina na sociedade.
Por isso, é necessário fazer um movimento de contraposição a essas ideias pré-concebidas, questionando tudo aquilo que for estabelecido como padrão.
O que está por trás da busca incessante por um corpo perfeito?
A mídia, o mercado e a indústria cultural que existem hoje inviabilizam, muitas vezes, a construção de uma noção saudável do ser humano sobre o próprio corpo, gerando uma necessidade de controlar e consertar “defeitos”.
Um exemplo visível é a indústria da moda, que produz roupas visando atender “corpos magros”, impossibilitando o acesso de pessoas consideradas “acima do peso”, já que a maioria das marcas oferta pouca diversidade de numerações.
Com isso, pessoas e corpos reais acabam sendo pressionados a fazerem de tudo para entrar no padrão estético perfeito, além de agir da forma esperada socialmente para serem “incluídas”, esquecendo-se do valor de suas próprias individualidades.
Por isso, atentarmos às nossas próprias particularidades é essencial para o fortalecimento da autoimagem. Podemos fazer isso de muitas formas:
- Praticar atividades físicas prazerosas e do seu gosto.
Por vezes colocada como algo penoso, a atividade física pode se tornar prazerosa quando achamos alguma modalidade esportiva do nosso gosto.
- Alimentar-se bem pensando nos ganhos mentais, de saúde e disposição.
Alimentos de qualidade são combustíveis para nossa saúde e disposição diária, além de garantir o equilíbrio e a disciplina na rotina, mantendo a vida mais organizada.
- Cultivar os próprios gostos e práticas da própria preferência.
Hobbies, atividades sociais e intelectuais que sejam satisfatórias fazem com que a visão do próprio corpo torna-se mais fiél ao que realmente queremos e gostamos
- Parar de se comparar.
Cada pessoa é única e dotada de diversas qualidades, por isso, é importante olharmos para nossas subjetividades e garantir mais segurança e respeito com quem somos.
O cuidado com o corpo como um ritual
Para que a visão sobre nossos corpos fique mais saudável, precisamos fazer com que nossos cuidados com ele sejam um hábito, que podem ser considerados rituais, quando feitos de maneira disciplinar e consciente.
Precisamos ver o cuidado com o corpo como algo sagrado, para que nosso templo seja apreciado por nós mesmas.